Como contribuir com a pesquisa científica sem ser um cientista

Os dados da mais recente pesquisa de percepção pública da ciência e da tecnologia realizada no Brasil indicam que apenas 11% dos jovens entre 16 e 17 anos não se interessam por ciência e tecnologia (no geral, considerando todas as faixas etárias, de renda e graus de escolaridade, o desinteresse sobre os temas é da ordem de 25% e tem se mantido estável ao longo dos anos). Isso significa que mais de dois terços da população tem interesse por ciência e tecnologia. Aliás, a relação do brasileiro com o conhecimento científico é bem interessante, como já discutido neste texto.

Contudo, é evidente que a participação do brasileiro em questões científicas está aquém do desejado. O mesmo estudo traz dados preocupantes: mais de 93% da população nunca participou de manifestações relacionadas à ciência e tecnologia. Evidente que este é um problema complexo e, portanto, possui causas complexas e variadas: a baixa compreensão da ciência, o pouco acesso à informação científica por parte das instituições, uma democracia recente que ainda não é plena para alguns setores da sociedade e as deficiências na aprendizagem científica no ensino básico ou superior.

A contribuição política

A participação popular na ciência pode – e deve – ser mais efetiva. Por exemplo, ao fazer pressão contra projetos de lei que retiram recursos para o financiamento de pesquisadores e de suas pesquisas científicas. Ou agindo para que os recursos de incentivos à ciência cheguem a quem realmente precisa e possibilitem que bolsistas tenham condições de subsistência enquanto realizam o seu trabalho. Ou fazendo pressão para que instituições científicas tenham liberdade para realizar o seu trabalho, sem atender a interesses escusos ou falsamente benéficos para a população.

Essa é uma das razões pelas quais você sempre deve escolher muito bem que quer que represente você no legislativo. Afinal, para quem você vai fazer pressão se nem ao menos lembra em quem deu o seu voto?

Mas há outras formas tão importantes quanto essa de se contribuir com a ciência.

A contribuição voluntária com pesquisas científicas

Você deve ter lido sobre o radiotelescópio de Arecibo, aquele que cedeu no fim de 2020 e interrompeu a pesquisa científica em radioastronomia realizada pelo observatório, especialmente o SETI, projeto que buscava a presença de vida inteligente em outros lugares do universo a partir da emissão e captação de ondas de rádio. Como a capacidade de processamento dos dados coletados ia muito além do que a dos computadores do instituto, aplicou-se uma solução muito interessante: utilizar a capacidade de processamento ociosa de computadores e celulares de pessoas do mundo inteiro. Assim, o SETI@home reuniu milhares de voluntários ao redor do mundo que emprestavam a capacidade de processamento de seus computadores para que os dados obtidos a partir do radiotelescópio fossem tratados em busca de vida inteligente fora da Terra. Escrevi sobre a contribuição aqui.

Com o colapso do radiotelescópio, o projeto envolvendo o SETI foi paralisado. Mas há outras pesquisas científicas em andamento que adotam a mesma estratégia de compartilhamento de processamento ocioso que você também pode contribuir, nas mais diversas áreas: desde jogos até astrofísica espacial. Tudo a partir do BOINC, uma plataforma de computação da UC Berkeley de código-aberto e que permite a participação pública em projetos científicos dessa natureza. Você pode conhecer todos os projetos vinculados ao BOINC neste link.

Outra plataforma que permite a contribuição voluntária em projetos científicos é a Zooniverse. O site contém dezenas de projetos de pesquisa científica em que o público pode participar, seja enviando dados, respondendo questionários ou com outros métodos aplicáveis a pesquisa em questão. O site é todo em inglês, mas a navegação é intuitiva (e o Google Tradutor tá aí para isso mesmo, né?).

Também há iniciativas brasileiras, como a pesquisa NutriNet Brasil, promovida pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo. Com mais de 85 mil participantes, a pesquisa procura levantar as características da alimentação brasileira que podem promover doenças como a hipertensão e a diabetes. A participação é gratuita e periodicamente são enviados questionários via e-mail para que o voluntário escreva sobre a sua alimentação, bem-estar e outras questões relacionadas com a pesquisa.
Independente da forma, você pode contribuir muito com a ciência, mesmo não sendo um cientista. Incentive as pessoas de seu convívio a colaborar também. Todo o mundo pode ganhar com a sua participação, acredite.

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