Com o aumento da demanda por informações relacionadas ao novo coronavírus (Sars-CoV-2), um fenômeno interessante acabou surgindo: a procura por publicações científicas por pessoas fora do ambiente acadêmico. Esse material, que usualmente só é acessado por cientistas e comunicadores da ciência, hoje tem sido distribuído largamente entre grupos de WhatsApp e postagens no Facebook.
Entretanto, nem sempre os termos relacionados aos documentos publicados são conhecidos pelo público. Já falamos sobre como certos temos têm significados diferentes quando são aplicados a conceitos científicos. Mas também existe o caso de termos ou expressões relacionados com a prática e a publicação da pesquisa científica que precisam ser precisamente claras a quem recebe certa informação.
Você já deve ter ouvido falar no termo “revista científica”. Essas revistas não são como revistas que usualmente compramos em lojas ou recebemos semanalmente em casa – ao menos, não com os mesmos propósitos. Esse tipo de publicação reúne artigos científicos em que cientistas descrevem uma pesquisa ou propõem um novo conhecimento ou uma nova interpretação para alguma coisa que já existe dentro da ciência. Por isso, seu texto costuma ser demasiadamente técnico, com palavras específicas de um determinado campo científico, pois ele será lido por outros cientistas ou outros profissionais – como jornalistas e divulgadores científicos – interessados no assunto. Quanto maior o prestígio de uma revista científica, mais difícil é para submeter e ter o seu artigo publicado nela. Por outro lado, esse maior prestígio adiciona uma camada de segurança – a revisão dos resultados costuma ser mais rigorosa – e faz com que determinados artigos sejam mais lidos e discutidos por cientistas do que outros que foram publicados em revistas de menor prestígio.
Aliás, por falar nisso, é preciso entender que um artigo científico é um relato completo sobre um determinado conhecimento científico, que ao ser publicado nas revistas científicas, pode ser discutido e até ter seus resultados checados por outros cientistas, que podem reproduzir os métodos propostos de maneira independente, chegando ou não aos mesmos resultados. Os artigos científicos dão um bom indicativo da produção científica de um país: a quantidade e a qualidade dessas publicações nos trazem um retrato interessante de como a ciência se desenvolve em um país, quais são seus pontos fortes de pesquisa, as áreas de interesse e etc. Mas artigos científicos não estão imunes a erros, a resultados deturpados e nem a interpretações errôneas – intencionais ou não. Por isso, a revisão por pares é tão importante: quando um pesquisador envia um artigo para ser publicado por uma revista, outros cientistas da mesma área revisam esse texto para indicar possíveis correções. Isso minimiza a chance de erros ou de deturpações no artigo publicado.
Só que a publicação de um artigo científico pode levar semanas e até meses entre o primeiro envio e a aprovação para a publicação. Uma das formas de agilizar o processo de publicação de informações relevantes sobre uma pesquisa em andamento é a publicação de um paper, uma espécie de “resumo” de um artigo científico completo, que cientistas produzem para serem discutidos em congressos e seminários de uma determinada área. Esses textos geralmente são revisados pela comissão organizadora do evento científico antes de serem disponibilizados para qualquer pessoa interessada.
Outra forma de divulgar resultados, sobretudo parciais, de uma pesquisa científica está no preprint ou pré-publicação. Nesse tipo de material, os cientistas divulgam atualizações sobre os resultados de suas pesquisas, indicando tendências para os resultados e indicando caminhos de suas pesquisas que podem ser reproduzidos por outros cientistas.
Os preprints são importantíssimos para a ciência, embora alguns deles sejam publicados sem a revisão por pares, o que aumenta o risco de uma interpretação incorreta de um resultado não ser levada em conta e até mesmo uma fraude não ser detectada antes da publicação dos resultados da pesquisa em uma revista científica.
Evidentemente, o momento atual exige uma rápida resposta da ciência para atender aos anseios sociais, políticos e econômicos e determinar as ações mais seguras para a manutenção da vida. Mas é preciso ter cuidado redobrado ao utilizar as informações de preprints como fonte de alguma informação. O ideal é utilizar repositórios de preprints com revisão por pares ou com publicação auditada por um editor, isto é, um pesquisador da área do conhecimento do artigo em questão.
Outras expressões relacionadas a publicação de uma pesquisa científica:
- Peer-review: é como é chamada a revisão por pares, isto é, a leitura e apontamentos críticos de outros cientistas sobre um artigo científico. Sabe quando você vai comprar um remédio de uso controlado e o atendente pede para que outra pessoa confira se o medicamento escolhido é o mesmo que o médico receitou e se todas as informações de preenchimento estão corretas? Então, a revisão por pares tem o mesmo sentido quando falamos sobre a análise dos artigos.
- Open acess: o acesso aberto (ou open acess, em inglês) é como é designado o acesso irrestrito a artigos e outros trabalhos científicos produzidos por cientistas.
- Science open: é uma iniciativa mais extensa do que o open acess. Trata-se de disponibilizar textos originais, pareceres dos revisores e todos os dados e resultados obtidos para o acesso de outros cientistas ou de outros interessados.
E lembre-se: informações científicas são muito preciosas para nos ajudar a decidir caminhos a seguir em diversos aspectos de nossa vida. Mas tão importante quanto o acesso a esse tipo de informação, é saber analisar como ela foi obtida e apresentada. Quanto maior o seu nível se segurança, melhor. Então, se vir algum artigo científico ou paper divulgado por aí, procure lê-lo e verificar se ele é revisado por pares e em qual local foi publicado pela primeira vez.
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