“A pesquisa básica é como atirar uma flecha para o ar e, onde ela cair, pintar um alvo.”
(Homer Adkins Burton, químico norte-americano)
O conhecimento científico, do mesmo modo que outros tipos de conhecimentos humanos, possui um conjunto de elementos próprios, ritos e métodos que, ao fim das contas, nos permite diferenciá-lo e caracterizá-lo como… Ciência. Assim, quando pensamos na ciência enquanto prática desenvolvida por cientistas, precisamos compreender os passos e as regras que estão envolvidas nesses momentos para então compreender como é que a ciência funciona. Ou seja: compreender o conhecimento científico passa por conhecer como é o seu desenvolvimento, as barreiras, os consensos, as limitações e as vantagens que o conhecimento científico possui diante dos outros tipos de conhecimentos.
Aqui no ccult.org procuramos discutir esses elementos da ciência que estão compreendidos dentro do que se denomina “cultura científica”. Aliás, a cultura científica, enquanto campo de pesquisa científica, é uma área relativamente recente e por isso, está em desenvolvimento desde a sua concepção enquanto definição, passando pela caracterização de seus elementos constituintes, até a formação básica desse tipo de cultura na educação científica e no exercício da cidadania. Afinal, nossa sociedade está completamente implicada com as consequências do desenvolvimento científica; desta forma, compreender como a ciência funciona não é apenas uma necessidade prática para a vida acadêmica: ela é uma importante aliada na tomada de decisões no cotidiano.
A lista a seguir traz dez livros que considero essenciais para a compreensão dos elementos que constituem a ciência e o trabalho dos cientistas, e de sua relação com os mais diversos aspectos de nosso cotidiano. E não, essa lista não é, de forma alguma, uma lista definitiva de livros sobre a cultura científica.
- A construção das ciências: introdução à filosofia e à ética das ciências – Gérard Fourez (Editora Unesp, 1995. 319 páginas) – Gérard Fourez é um pensador belga de grande influência na pesquisa em educação em ciências. Neste livro, o autor aborda como o conhecimento científico se desenvolve, tanto quanto método, isto é, como são as etapas para que este desenvolvimento ocorra, quanto como prática. Ao final de cada capítulo, você encontrará um resumo sobre as principais ideias e argumentos desenvolvidos no texto.
- O que é ciência afinal? – Alan Francis Chalmers (Editora Brasiliense, 1994. 225 páginas) – Este, sem dúvida alguma, é um dos clássicos na área de epistemologia da ciência (ramo da filosofia que estuda a natureza do conhecimento científico). Neste livro, são discutidas as ideias acerca de como podemos definir o que é ciência e como é a aproximação do conhecimento científico da verdade dos fatos. Não, o conhecimento científico mais atualizado não é a certeza de que chegamos a verdade sobre ele, já que novas explicações mais abrangentes podem aparecer a qualquer momento (e essa é uma das belezas da ciência: não existem verdades absolutas ou dogmas na ciência).
- Ciência e pseudociência: por que acreditamos apenas naquilo em que queremos acreditar – Ronaldo Pilatti (Editora Contexto, 2018. 159 páginas) – Obra brasileira que discute como podemos diferenciar o que é considerado científico daquilo que parece científico, mas que não é aceito como ciência; além disso, o autor ainda apresenta explicações do porquê, em meio a tantas informações e conhecimentos, as pessoas ainda tomam como verdade absoluta as suas crenças, mesmo quando elas se opõem a aquilo que a racionalidade propõe.
- Um discurso sobre as ciências – Boaventura de Souza Santos (Cortez Editora, 2018. 109 páginas) – De autoria do sociólogo português Boaventura de Souza Santos, este livro também é um dos clássicos da filosofia da ciência – ao menos em língua portuguesa. Nele, Boaventura faz uma crítica contumaz ao positivismo científico e a racionalidade científica, que segundo ele, já não podem mais serem colocados no altar do conhecimento único e verdadeiro. Desta forma, o conhecimento científico deve passar por uma reformulação que o aproxime daquilo que temos por senso comum.
- Filosofia das Ciências – Pascal Nouvel (Papirus, 2013. 240 páginas) – Na mesma linha do livro “O que é ciência afinal?”, o livro de Nouvel apresenta um panorama histórico das linhas de pensamento da filosofia das ciências.
- Ciência em ação: como seguir cientistas e engenheiros sociedade afora – Bruno Latour (Editora Unesp, 2012. 440 páginas) – Para muitos, o livro de Latour é um marco na filosofia e na antropologia da ciência. Afinal, nesta obra, o autor discute como é o relacionamento entre cientistas e seus pares, de modo a proteger ou contestar teorias, e como novos aspectos são aceitos ou descartados na ciência, a medida em que há o consenso sobre a sua relação com a verdade e os objetivos científicos de cada área do conhecimento.
- A estrutura das revoluções científicas – Thomas S. Kuhn (Perspectiva, 2017. 323 páginas) – Além de ser uma revisão de história da ciência, o livro de Kuhn traz novas perspectivas sobre a forma como ocorre o avanço do conhecimento científico, isto é, como uma teoria deixa de ser aceita para ser substituída por outra, discutindo o papel do paradigma científico (que pode ser definido como aquele conhecimento estabelecido).
- Contra o método – Paul Feyerabend (Editora Unesp, 2011. 373 páginas) – O livro de Paul Feyerabend se tornou um clássico na filosofia da ciência ao criticar justamente a ideia de que a ciência tem que seguir métodos exclusivamente racionalistas e universais. De fato, a reflexão que Feyerabend traz aqui reflete em outros campos, inclusive o campo educacional, já que o pluralismo metodológico da ciência também é aplicado no pluralismo metodológico do ensino de ciências, isto é, a adoção de diferentes estratégias no ensino e na aprendizagem de ciências de qualquer área.
- A lógica da pesquisa científica – Karl Popper (Cultrix, 2013. 454 páginas) – O autor austríaco Karl Popper teve grandes embates de ideias com Thomas S. Kuhn sobre epistemologia da ciência. Uma das grandes fontes desse embate foi esta obra, onde Popper propõe, entre outras coisas, o critério de falseacionismo para delimitar o que é ou que não é científico (já discutimos essa ideia neste texto). Basicamente, Popper propõe que um conhecimento só pode ser considerado científico se puder ser falseado, isto é, se puder ser testado de alguma forma para se verificar se determinado enunciado é verdadeiro ou não.
- Imposturas intelectuais: o abuso da ciência pelos filósofos pós-modernos – Alan Sokal e Jean Bricmont (Edições Best Bolso, 2014. 392 páginas) – E se alguém nem lesse os argumentos de um artigo científico e o publicasse só porque citações remetem a autores de renome? Foi basicamente o que Alan Sokal fez em 1996 ao publicar um artigo cujas afirmações eram completamente absurdas à luz do conhecimento científico, mas que ao serem colocadas como uma colcha de retalhos, parecem corretas. Foi aí que Sokal revelou ao mundo a sua “brincadeira”, o que causou um furor no meio acadêmico. Neste livro, além de comentar sobre este caso, os autores discutem como certos argumentos baseados em conceitos de ciências exatas são erroneamente aplicados em outras ciências.
As dez obras acima estão disponíveis em língua portuguesa e algumas edições estão disponíveis em formato digital e as informações sobre ano da última versão publicada, foram retiradas dos sites das respectivas editoras.
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