O WolframAlpha é um lugar interessantíssimo da internet mundial. Ao contrário do que os buscadores tradicionais fazem, o Wolfram — desenvolvido por Stephen Wolfram, o mesmo desenvolvedor do conhecido Wolfram utilizado em pesquisas nas áreas de ciências exatas — apresenta dados e números sobre quase qualquer coisa que você deseja saber. O algoritmo compila informações de diversas fontes e apresenta na tela, gráficos, tabelas e imagens relacionadas ao que foi pesquisado.
O Wolfram é uma iniciativa interessantíssima para uma internet cada vez mais repleta de dados e de informações. Mas apesar do volume gigantesco de informações — segundo o Wolfram, há 1,96 bilhões de sites ativos na internet mundial — ainda há muita coisa a se fazer, claro. Uma delas é o próprio acesso ao conhecimento: as restrições de acesso por conta de ineficiência nas conexões ou a necessidade de financiamento privado de empresas e de seus conteúdos são um impeditivo importante para que este acesso seja realmente democrático, acessível quem quer que deseje acessá-lo.
É aqui que a Wikipédia entra. A “enciclopédia livre”, nascida pela iniciativa de Jimmy Wales, após uma série de iniciativas que culminaram, em 15 de janeiro de 2001, na criação do domínio wikipedia.com. A ideia de ter uma página acessível e editável por qualquer pessoa interessada foi revolucionária e um dos melhores exemplos de como a internet colaborativa é uma daquelas coisas que faz recuperar a fé na humanidade. Com o passar do tempo, a Wikipédia ganhou edições em novos idiomas, recebeu atualizações quase em tempo real sobre eventos importantes, mas também sofreu com problemas sérios com a deturpação de informações e a apresentação de tópicos sem a correta referência, além das disputas entre editores e voluntários sobre o que poderia ou não ser publicado na Wikipédia [1].
Outro problema que a Wikipédia enfrenta — e que não é necessariamente culpa da plataforma — é a representatividade e a divulgação de feitos importantes para a ciência e tecnologia protagonizado por mulheres. Numa espécie de Efeito Matilda, muitas mulheres acabam não ganhando uma página na Wikipédia para apresentar os seus feitos. Apenas 19% dos artigos em inglês são sobre a história de mulheres, de acordo com dados do WikiProject Women in Red. E isso não é um problema menor: muitas buscas no Google e no Bing tem a Wikipédia como fonte de seu banco de dados de informações. Desta forma, muitas cientistas ficariam desconhecidas do público fora de suas áreas de atuação, o que em certa medida, contribui para que estereótipos que masculinizam a ciência continuem a existir.
Inspirada em uma história ocorrida com ela própria, Jess Wade (que é pesquisadora na área de espectroscopia no Imperial College London), escreveu por conta própria mais de 1700 artigos na Wikipédia com biografias de mulheres cientistas que provavelmente passariam anônimas pelo grande público se não fosse pela iniciativa. Claro, esse é um pequeno passo para que o trabalho dessas e de outras mulheres seja conhecido por mais pessoas. Mas é um passo importantíssimo não apenas para o registro, mas para chamar a atenção para a questão da ausência de textos sobre mulheres cientistas na Wikipédia (e em outros espaços da internet, claro).
Um desses problemas foi narrado pela própria Wade em seu perfil no Twitter e neste texto publicado na edição virtual do Washingont Post. O artigo escrito por ela a respeito de Clarice Phelps, química nuclear e provavelmente a primeira mulher negra envolvida na descoberta de um elemento químico, foi marcado pelos editores como sendo de uma pessoa “não notável” e, por isso, não deveria compor os verbetes da Wikipédia. O desabafo de Jess surtiu efeito e o artigo sobre Phelps acabou sendo publicado pela plataforma.
Aumentar o número de biografias de mulheres cientistas é um imenso desafio e que não depende apenas de ajustes na política da Wikipédia. Como você deve saber, os artigos publicados na enciclopédia livre são escritos e revisados por uma comunidade de voluntários que contribuem diariamente em seu tempo livre para aumentar a qualidade e o número de textos na Wikipédia. Contudo, é preciso que temas específicos tenham a sua escrita incentivada, ao mesmo tempo em que os estigmas que a Wikipédia ainda carrega sejam derrubados. Ensinar a avaliar a qualidade de um artigo da Wikipédia passa por compreender, por exemplo, o papel das referências utilizadas, ao mesmo tempo em que os seus autores e leitores devem entender o compromisso com a imparcialidade e a correção das informações apresentadas. Um artigo da Wikipédia, como discutido neste texto [2], é uma importante ferramenta para a formação da cultura científica. Por que não incentivar alunos e alunas a pesquisar e a escrever sobre uma mulher cientista da região onde vivem, por exemplo?
Para conferir maiores detalhes sobre a história de Jess Wade e suas mais de 1700 publicações sobre cientistas na Wikipédia basta acessar a página especial na Wikimedia sobre a cientista
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[1] Como conta sjhdajs no livro “A informação: uma história uma teoria uma enxurrada”, escrito por James Gleick e publicado no Brasil pela Companhia das Letras, a edição de artigos para a Wikipédia esbarrou em problemas para se definir não apenas o que era um conhecimento, mas principalmente o que era um conhecimento relevante. O que é relevante afinal? É uma pergunta interessante cuja resposta pode ser complexa demais.
[2] Como pode ser lido aqui: A Wikipédia como ferramenta de enculturação científica
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