A rejeição de artigos e a vitória no Nobel

Receber um prêmio Nobel é o reconhecimento máximo da carreira de um cientista. O mais famoso prêmio das ciências, concedido desde 1901, coroa uma vida de estudos, rejeições, frustrações, paciência e disputas internas. Afinal, os métodos de pesquisa científica tendem a nos fazer ampliar o conhecimento sobre determinado assunto; entretanto, o desenvolvimento e a aplicação destes métodos é quase sempre uma experiência regada com pressões, medos e fracassos que quase nunca são divulgados para o público externo. A impressão que se tem é que os cientistas sempre acertam em suas escolhas metodológicas e em suas análises e nunca se enganam quanto aos resultados obtidos.

Para muitos, fazer ciência é uma espécie de “reloginho”, em que todas as engrenagens se encaixam com perfeição – o que, neste caso, significa que as verbas de pesquisa serão suficientes, os modelos teóricos se encaixarão com perfeição, os experimentos ou testes validarão as hipóteses sem chance de contestação… E os resultados serão aceitos para a publicação em uma revista científica de prestígio.

Só que a ciência não funciona assim e, em geral, é mais comum que nos deparemos com rejeições e frustrações relacionadas ao corte de verbas, embasamento teórico complexo, e, principalmente, paciência para ter o resultado publicado por uma revista científica.

Bem, e o que isso tem a ver com o Prêmio Nobel em 2019? Circula na internet uma imagem muito interessante da carta de rejeição de publicação do artigo escrito por Peter J. Ratcliffe, que junto com William Kaelin Jr. e Gregg L. Semenza, acabou laureado com o Nobel de medicina e fisiologia “por suas descobertas de como as células sentem e se adaptam à disponibilidade de oxigênio”, tema que justamente teve a publicação rejeitada na Nature, uma das mais prestigiadas revistas científicas do mundo.

A rejeição de artigos é algo relativamente comum no processo de publicação do resultado dos estudos de cientistas. Em geral, após realizarem as suas pesquisas, os cientistas publicam seus resultados e conclusões em periódicos científicos, para que outros cientistas da área possam acessar, discutir e reproduzir o seu estudo. Só que a publicação envolve a avaliação daquilo que foi produzido pelo pesquisador e, a depender dos interesses da publicação ou da qualidade ou da relevância que o texto possui, ele pode ser parcialmente rejeitado, com sugestões de correção ou rejeitado completamente, sem que o cientista possa propor a publicação deste texto novamente naquele periódico.

A taxa de aceitação de artigos é objeto de estudo no mundo todo. Um dos estudos mais interessantes sobre o assunto pode ser acessado aqui.

Apesar da rejeição da publicação pela Nature, o artigo foi publicado em outro periódico. A persistência pela publicação resultou no Nobel. Mas o que seria um cientista se não um ser persistente?

Em tempo: o prêmio Nobel de Física em 2019 foi dividido entre três pesquisadores da área de cosmologia: os suíços Michel Mayor e Didier Queloz, da Universidade de Genebra, pela descoberta dos primeiros exoplanetas – planetas que estão fora de nosso sistema solar – e o norte-americano James Peebles, da Universidade de Princeton, pelo desenvolvimento do atual modelo teórico para o estudo da origem e para a expansão do universo.

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