Typst, um editor de artigos e teses

Não é de hoje que nós compartilhamos ou discutimos os nossos conhecimentos científicos utilizando os famosos artigos científicos (ou, como preferem alguns, os papers). Aliás, essa ideia de escrever textos para outros cientistas [1] já era praticada antes de Cristo. Contudo, a coisa só tomou a forma que tem hoje após a invenção da imprensa, por Gutemberg: se antes precisávamos criar manualmente cada cópia do texto, sem padrões específicos de linguagem e de estrutura textual, passamos contar com a rapidez da reprodução de informação — já que cada artigo poderia ser reproduzido em quantas cópias coubessem no orçamento — e na rapidez de sua disseminação para outros pares.

Um dos precursores da ciência moderna, Galileu Galilei foi um dos grandes usuários da novidade tecnológica trazida por Gutemberg. Mas não apenas por seu uso, mas pela forma: Galileu escrevia o seu texto em italiano e descrevia em detalhes os materiais e métodos de suas observações para outros cientistas de toda a Europa [2], que tinham, então, um material para utilizar como base na reprodução de atividades experimentais e em outras práticas relacionadas ao conhecimento científico.

Daí por diante, escrever artigos científicos tornou-se uma das práticas culturais da ciência mais conhecidas daqueles aspectos que poderíamos nomear como pertencentes à cultura científica. É a partir de um artigo científico que um ou mais cientistas iniciam e participam do diálogo a respeito dos conhecimentos de uma determinada área da ciência, de novas interpretações ou de aspectos já estabelecidos dentro do consenso científico.

Só que escrever um artigo científico não é uma das tarefas mais simples que alguém pode se propor a fazer. Além de desenvolver o texto em si, há toda uma rotina de formatações do texto e de suas informações que nem sempre facilita produzir um trabalho científico.

Algumas extensões e aplicativos tentam ajudar nisso. Essa lista do TechTudo, por exemplo, mostra algumas extensões e aplicativos que ajudam a organizar as formatações de referências nas normas ABNT. O Overleaf é um editor LaTeX [3], virtual e que, a partir de assinaturas relativamente salgadas para quem não ganha em dólar, permite a criação e a edição de um artigo em LaTeX. Se você prefere a versão gratuita do próprio LaTeX, para utilizar localmente em seu computador, basta acessar o site do projeto e seguir as instruções de instalação.

Outra solução muitíssima interessante é o Typst. Dica da newsletter do Manual do Usuário, o Typst, ainda em versão beta, é uma plataforma interessantíssima para a criação de artigos científicos na web. Além de ser open source, o Typst permite a edição colaborativa de artigos científicos em layouts que o próprio site oferece, ou seja, a formatação em colunas fontes, equações, imagens e todo o resto fica a cargo do aplicativo. É um trabalhão a menos na hora de elaborar um artigo!

Reprodução | Typst

Todas as edições são formatadas e apresentadas em tempo real para todo mundo que colabora na edição do texto. Sim, é possível compartilhar o arquivo para que os outros autores participem da edição do texto, de forma muito similar ao que aparece no Google Docs ou no Microsoft Word.

Ao iniciar um projeto, você pode customizar as informações de autoria, contato, resumo, entre outras. | Reprodução: Typst

Alguns recursos de LaTeX estão presentes no Typist, então se você quiser experimentar. Nada que necessite de uma curva de aprendizagem além do comum. Se você precisar, o próprio Typst apresenta uma boa biblioteca de recursos de ajuda e um fórum no Discord para a participação da comunidade.

Em tempo: por ainda estar em versão beta, o próprio Typst recomenda que você não o utilize em projetos que sejam críticos sem que você possua um backup dos dados e do texto que criou por lá. Enquanto não chega à versão estável, talvez, só talvez, seja interessante que você o utilize como recurso final, isto é, como mecanismo para finalizar a formatação e os detalhes de seu artigo científico. Até porque nunca é bom colocar todos os ovos em um mesmo cesto.

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[1] É interessante relembrar que o termo “cientista” na acepção que atualmente adotamos surgiu só no século XVIII graças a Mary Somerville, como é brilhantemente discutido aqui: https://www.themarginalian.org/2016/12/26/mary-somerville-scientist/
[2] No livro “Galileu e os Negadores da Ciência”, Mario Livio argumenta que essa foi uma das grandes “sacadas” de Galileu: a forma simples e acessível com a qual descrevia as suas descobertas propiciou a rápida disseminação de seus trabalhos por toda a Europa. É bom pensar nisso antes de escrever artigos excessivamente rebuscados (que, aliás, Bruno Latour, em “Ciência em Ação” descrevia como “uma forma de autodefesa do pesquisador frente a sua pesquisa”.)
[3] Para saber mais sobre o que é o LaTeX, acesse: https://www.youtube.com/watch?v=xQ3yYqLlHcQ&list=PLa_2246N48_p9ndUHlO255uvKtSR8mshE

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