Sobre o consenso científico das mudanças climáticas

Um dos campos mais importantes para o conhecimento científico é a epistemologia. O termo tem origem na junção das palavras gregas episteme, que pode ser traduzido como “conhecimento” e logos, que é concebido como “estudo”. Então, a epistemologia ramo – comumente atribuído a filosofia – cujo objetivo é o estudo do conhecimento. Ou seja: a epistemologia estuda a origem, a estrutura, os métodos e a validade do conhecimento.
A proposição de modelos e de teorias que definissem – ou ao menos delineassem – o conhecimento científico é um movimento observado em toda a história da ciência. E ao longo da própria evolução dessa discussão, outros tópicos também são objeto de estudo dentro a epistemologia, como por exemplo: os métodos da ciência, como os conhecimentos sobre um determinado assunto se modificam, a influência que a sociedade tem sobre as pesquisas dos cientistas e até como o conhecimento científico se aproxima ou não da verdade dos fatos.

E justamente uma das formas do conhecimento científico evoluir, isto é, deixarmos de adotar uma teoria e passarmos a adotar outra é o que chamamos de consenso. O consenso é basicamente o que fazemos quando precisamos decidir em grupo a forma de pagamento da conta em um restaurante. Após as diferentes visões apresentadas, o grupo chega a uma conclusão, que é adotada para aquele momento – embora possa ser modificada posteriormente. Claro, existem diferenças: na ciência, os pontos de vista apresentados são baseados em fatos, dados e análise de dados e, principalmente, ninguém é capaz de ditar as regras sozinho, isto é, o argumento da autoridade (“façam aquilo que eu mando pois sou eu quem mando aqui!”) não tem espaço na ciência.

E atingir esse consenso é justamente uma das etapas mais difíceis na aceitação de uma teoria pela comunidade científica. É preciso que a coleta de dados, a sua interpretação e os modelos teóricos adotados convirjam de forma muito bem estabelecida e de forma muito convincente para que as contestações sobre aquela teoria sejam cada vez menores e, em contrapartida, a teoria ou modelo científico seja adotada por cada vez mais cientistas. Uma das formas disso tudo acontecer é com a revisão por pares, isto é, é a revisão dos dados, argumentos e conclusões dadas por um cientista avaliadas anonimamente por outro cientista. Isso diminui a chance de que erros de intepretação dos dados (ou mesmo teóricos) sejam propagados.

Assim, depois de todas essas etapas e discussões sobre as quais o conhecimento científico passa, e quando ele finalmente passa a ser adotado por mais e mais cientistas, temos aquilo que chamamos de paradigma, que é basicamente o conhecimento sob o qual outros conhecimentos são estruturados.

Por isso, quando se fala em consenso científico sobre a origem antropogênica das mudanças climáticas, não estamos falando em ativismo político disfarçado de teoria científica. Há um processo muito dispendioso e bem elaborado pelo qual qualquer conhecimento científico passa antes de ser adotado pela comunidade acadêmica. É sobretudo nisso que reside a importância da informação do aumento do consenso científico sobre a interferência decisiva da ação humana sobre o clima: os diferentes métodos de coleta, análise e as conclusões sobre o tema apontam na culpa de nossa espécie. Dos 11,6 mil artigos científicos com revisão por pares sobre mudança do clima publicados nos sete primeiros meses do ano, não há nenhum que questione a origem antrópica do aquecimento global. Ou seja: a interferência humana sobre as mudanças climáticas não é apenas uma questão de opinião de ambientalista; é principalmente fruto de análises e de revisões científicas sobre o tema, que apontam o quanto as ações humanas – sobretudo em países desenvolvidos – afetam o clima no mundo todo, principalmente nos países não desenvolvidos.

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