Nem sempre parece óbvio concluir isso, mas administrar uma pesquisa científica é uma tarefa complexa. Os estereótipos — ah, os estereótipos! — vendem a ideia de que uma pesquisa científica é o resultado de boas observações ou de experimentos que comprovem em definitivo uma determinada teoria (e como deveríamos saber, teorias não são “comprovadas”, tampouco isso acontece de maneira definitiva).
Na verdade, administrar uma pesquisa científica é administrar uma série de relações, interesses e questões — não necessariamente nesta ordem. Quando se propõem a fazer uma pesquisa de caráter científico, isto é, relacionada com conhecimentos validados a partir dos critérios adotados pelos cientistas de determinada área, os pesquisadores lidam com diversas etapas até que seus resultados cheguem à comunidade científica e, então, para a sociedade. Em geral, essas etapas passam pela elaboração ou participação em um projeto de pesquisa (que é um guia, um norte de como se dará a pesquisa em cada uma de seus passos, incluindo os prazos e custos financeiros da pesquisa), elaboração de artigos científicos que serão discutidos por outros cientistas e então, chega à sociedade, especialmente por meio dos professores, divulgadores e jornalistas científicos.
Já deu para perceber que o trabalho científico é um trabalho em redes, né? Guarde essa informação.
Partindo justamente da ideia de que uma pesquisa científica terá como base conhecimentos validados pela comunidade científica, o primeiro ponto a ser discutido – ainda nas bases da pesquisa que se desenvolverá – é a pergunta que se pretende responder. Como escreveu Gaston Bachelard, um dos grandes filósofos da ciência:
Para o espírito científico, todo conhecimento é resposta a urna pergunta. Se não há pergunta, não pode haver conhecimento científico. Nada é evidente. Nada é gratuito. Tudo é construído.
Seja para buscar uma pergunta, seja para encontrar a resposta dela, cientistas se voltam aos conhecimentos científicos apresentados anteriormente por outros cientistas. Encontrar as fontes para fazer uma revisão teórica até encontrar o que é chamado de “estado da arte”, isto é, qual a abrangência e as limitações (ou lacunas) que o conhecimento científico sobre um fenômeno ou área possui. É geralmente neste ponto que pesquisadores e pesquisadoras se voltam aos programas que gerenciam referências, como o Mendeley, Zotero e o Cite This For Me (que saudade do RefMe!).
Em geral, esses referenciadores de pesquisa permitem a busca e o acesso aos artigos de interesse (desde que em acesso aberto, claro), organizando-os (ou não, já que isso depende da necessidade/tempo/desejo de quem utiliza) em categorias ou coleções e permitindo ainda criação de referências baseadas em normas, como a ABNT ou APA.
E qualquer um que já tenha lido um artigo científico bem escrito, já ficou com vontade de ler as fontes referenciadas no texto. Ou aqueles textos que citam o artigo lido – que permite, de certo modo, perceber o quanto um texto influencia ou não outros cientistas. Em todo modo, buscar as relações entre fontes e citações de um artigo é trabalhoso mesmo com o uso da internet e de ferramentas de auxílio a pesquisa.
Aqui entra o Research Rabbit, um delicioso site que permite analisar e gerenciar as referências de pesquisa científica, mas de uma forma ligeiramente diferente daquela proposta nos sistemas mais tradicionais: você acrescenta uma referência (por título, DOI, periódico, etc.) e o site, além de arquivar o texto, apresenta graficamente as fontes e os trabalhos que citam a referência carregada por você. Legal, né?
Aí fica muito mais fácil checar o impacto e os trabalhos derivados, além claro, checar outras publicações dos autores com os quais você lida em suas pesquisas.
É relativamente intuitivo utilizar o Research Habbit. Basta criar o login (com ou sem um e-mail institucional), um nome de usuário, senha e começar a acrescentar as referências que desejar. Até aqui, não encontrei nenhuma forma de fazer o upload do arquivo, apenas a busca dentro do mecanismo do site.
Isso facilita — e muito — compreender os focos de debate dentro da comunidade científica e suas ramificações. As conexões entre os trabalhos são apresentadas por tema e cronologicamente relacionadas. A linha do tempo, aliás, é um capítulo a parte: cada ponto possibilita a leitura de outros trabalhos, com suas respectivas fontes e referências.
Quanto mais artigos de uma mesma temática você importar para o Research Habbit, melhores serão as conexões apresentadas nos resultados. A seguir, as conexões de dois trabalhos muito conhecidos dentro da pesquisa em ensino de ciências: “Crise no Ensino de Ciências?” (FOUREZ, 2016) e “Para uma imagem não deformada do trabalho científico” (Gil-Perez et. al, 2001).
Outra possibilidade é compartilhar fontes e coleções com outros usuários do “Coelho Pesquisador”.
Infelizmente, o Research Habbit não possui versão mobile ou aplicativo para iOS ou Android. Mas é compreensível: como o design do site é expansivo – literalmente ele cresce para os lados a medida em que você expande as informações sobre os artigos.
Também não é possível gerenciar citações em normas específicas. Neste caso, isso seja uma consequência dos objetivos do site: facilitar o acesso a fontes e referências de artigos, bem como o impacto de cada trabalho dentro da comunidade científica alocados nas principais bases de dados (como Scopus e Web of Science).
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